Ainda não é caso, at school, mas como a aprendizagem se faz lá….hoje vou falar de regras para viver a dois…Segundo Wolfgang Lind, meu colega de faculdade e terapeuta familiar, não existem fórmulas infalíveis. Mas alguns gestos podem fazer a diferença, num casamento.
Negociação. Deve haver uma dialéctica saudável entre a aproximação e o afastamento, haver espaço para o casal e espaço para a pessoa. “O problema é que muitas pessoas abdicam disso, quando deve haver um compromisso mútuo para que sejam cumpridos os desejos de um e de outro, para que o espaço individual seja sempre respeitado.”
Balanço entre a limitação exterior e o casal. Este não se deve isolar dos antigos amigos, “devem criar-se novos núcleos de contacto com o espaço exterior (amizades, actividades partilhadas ou não), que trazem energia ao casal para que este se mantenha saudável”.
A comunicação. Deve partilhar-se, conversar sobre o que se passa todos os dias, “espontaneamente, para não haver interrogatórios”. Saber o que o outro deseja, as suas dificuldades e necessidades. “Temos de falar com o nosso parceiro com um interesse genuíno em fazê-lo – o que é mais difícil para os homens – porque não está escrito nos nossos olhos.”
Verbalizar os sentimentos. É preciso dizer que se gosta do outro, ele não adivinha, o amor não cai de pára-quedas, temos de o cultivar. Devemos partilhar gostos, sentimentos, hábitos, mesmo críticas, mas deve sublinhar-se que não é pelos defeitos do outro que a relação pode estar em causa. Deve haver rituais, são o que cola a família: fazer reuniões, ir beber a bica de manhã, todos os sábados, por exemplo. São rituais de estabilidade e segurança que previnem desequilíbrios.
A ideia do casamento com base na paixão é relativamente recente na História. Hoje, no mundo ocidental, partimos do princípio de que casamos quando estamos apaixonados. O casamento é baseado na paixão que é, por definição, o olhar para nós próprios”, diz o especialista. “Por isso, temos dificuldade em olhar para o outro, para os seus desejos, e não cuidamos dele. Ele é quem me serve, é a fonte de satisfação dos meus desejos: sexuais, materiais, de amizade, de ajuda e companheirismo. Não há mutualidade. É uma atitude típica da sociedade de consumo, como a que temos, por exemplo, com o nosso carro: quando me agrada, tudo bem; quando me dá problemas, compra–se outro. O mesmo acontece com o parceiro: quando ele não satisfaz as minhas expectativas, já não me serve.” A experiência de Wolfgang Lind em terapia de casal revela que os casais mais novos, quando as coisas correm mal, optam por esta solução – a mais fácil, na aparência.
A regra, hoje, é não haver regra, porque a bitola do passado já não existe. Actualmente, ninguém diz como deve ser um casamento feliz. Cada casal tem de encontrar a sua fórmula, “como um jardineiro que tem de olhar pelo seu jardim: conhecer o terreno, as plantas, investir, semear, cuidar. É o olhar para o outro. As relações devem ser 1+1=3, isto é, o eu, o outro e o nós. É um investimento precioso que se dá ao amor e que também encerra o seu grande mistério”. Para o psicólogo, o estímulo é o segredo para a chama da paixão não desaparecer: “Ela ganha novas formas, novos sabores.”
Outro dos grandes problemas dos jovens casais são as altas expectativas que têm em relação ao casamento. Imaginam uma história cor-de–rosa, quando este é um passo que exige um certo realismo, “uma grande formulação, uma negociação contínua”. O futuro é sempre um enigma, recorda Wolfgang Lind. “Se pensarmos muito se vai funcionar ou não, escapa-nos o momento. Ortega y Gasset dizia: ‘Andando se hace el camino’.” Para ele, a tentativa é sempre a primeira via. Só não vale a pena quando a indiferença mina o terreno do casal.
Todos os casais vivem ciclos que obrigam a repensar a relação e podem, por seu lado, gerar desentendimento. Por isso, as separações são mais prováveis “imediatamente depois do casamento, sete anos passados, após o nascimento dos filhos, e quando estes saem de casa”, explica o psicólogo.
Equilíbrio na luta de poder. É importante partilhar tarefas, tomar decisões concertadas e alternantes. “Devemos ter a sensação de que podemos dar ao outro e a sensação de que precisamos do outro.”
Pesando os prós e os contras, para Wolfgang Lind, o casamento ganha sempre mais pontos. Enuncia estudos que mostram que o casamento “fortalece o sistema imunológico, aumenta a longevidade e previne as depressões, principalmente no caso masculino. É benéfico para a saúde mental, porque temos alguém para cuidar de nós e o sentimento de sermos úteis a alguém”. Segundo o especialista, as pessoas que vivem relações esporádicas estão muito mais sujeitas a desequilíbrios do foro psicológico. O casamento tem um impacto positivo na sua prevenção e os estudos provam que esse peso é maior do que o do sucesso profissional ou da posse de bens materiais.
“As pessoas julgam que, ao não casarem, estão mais livres. Mas, na verdade, estão mais sós”, afirma o psicólogo.
A solução para o casamento será então acompanhar os novos tempos e as novas mentalidades. Balizar-se numa renovação de valores que são a estrutura dos sentimentos. Agustina Bessa-Luís escreveu, em Fanny Owen: “O amor precisa de muitos sacrifícios para inventar a sua originalidade.” Jamais perfeito, só resta ao casamento reinventar-se no seu projecto de romantismo. E na verdade, nenhuma das jovens entrevistadas o excluiu dos seus sonhos futuros, principalmente quando se fala de filhos. Idealizado ou desacreditado, o casamento continua a ser o símbolo social do amor, a que Natália Correia chamou “a dinâmica do desentendimento”.